domingo, 4 de setembro de 2011
Quando acaba uma partida de tênis, os dois
jogadores mal se falam. Trocam aperto de mão ainda chispando de ódio. Já
no boxe, após socarem-se, inchados, sangrastes abraçam-se efusivos. Há
afeto no abraço, reconhecimento - quase sempre - do talento e coragem
alheios. Entre dois homens que se enfrentam fisicamente, após o máximo
de tensão e raiva, surge admiração, o respeito, brota a amizade. O tênis
é ao mesmo tempo o mais violento e o mais civilizado dos desportos. É
tão violento, que se transformou no mais distinto e elegante. São 2
horas de uma pancadaria como não há outra em qualquer desporto. Dois
seres humanos, com um tacape nas mãos, esbordoam uma bola com energia
potente, por horas. É jogo silencioso. Olhar de lince, ação de espreita,
jogo limpo, cada qual em seu território, nenhuma promiscuidade física,
os debatedores olham-se ao longe, não se misturam, não se roçam, não
sentem o cheiro do outro, tudo, sempre, civilizado, anti-séptico,
vestidos de branco, toalha para o suor. E, no entanto, odeiam-se talvez
porque jamais consegue transformar a raiva em atrito real, confronto
entre forças físicas em choque. No boxe, o oposto. Luta dramática,
agônica, a resistência em seu limite, abraços, baba suor, sangue, cuspe,
cheiros, a um passo da humilhação pela queda, a derrota patente, o
cansaço, a superação, força, técnica e resistência misturadas, exaustão,
estresse e o enorme orgulho, ao final, de haver logrado superar não o
adversário, mas, sobretudo a si mesmo...
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